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Edição 4, Agosto de 2020

Tendo entrado em operação em janeiro de 2018, com previsão de término para junho de 2020, o projeto ImPrEP foi estendido para mais um ano, com financiamento da Unitaid e parceria com os Ministérios da Saúde do Brasil, Peru e México. Nesta entrevista ao Conexão, a pesquisadora principal do estudo, Valdiléa Veloso, comenta acerca da renovação e das principais iniciativas que serão conduzidas até junho de 2021, bem como conhecemos as expectativas do pesquisador principal e do co-pesquisador principal do ImPrEP no México, Hamid Vega e Sergio Bautista-Arredondo, respectivamente, e de Carlos Cáceres, pesquisador principal do projeto no Peru.

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Estudo ImPrEP é prorrogado até junho de 2021

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O que levou o estudo a ser prorrogado até 2021?

 

É importante frisar que a Unitaid, nossa agência patrocinadora, considera o ImPrEP o maior estudo de demonstração de PrEP em ação no mundo, não apenas em número de participantes, mas, principalmente, por ter montado uma plataforma ideal para avaliar a introdução de novas drogas e esquemas da profilaxia no âmbito de programas de prevenção ao HIV, estando assim em totais condições de fornecer resultados científicos robustos. 

 

Nesse sentido, o estudo possuía todas as credenciais e argumentações necessárias para solicitar uma extensão do projeto para continuar contribuindo de forma significativa para a implementação da PrEP no Brasil, Peru e México, e consequentemente estabelecendo ecos para toda a América Latina. 

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Saiba mais sobre o ImPrEP

Como avalia o atual momento dos três países em relação à PrEP?

Uma das prerrogativas do consórcio ImPrEP é respeitar a realidade de cada país no tocante ao ritmo interno dos processos de implementação da PrEP. O Brasil já possui uma política pública sobre a profilaxia, necessitando apenas refinar as evidências científicas acerca das melhores abordagens para a oferta desse método de prevenção, para que haja uma expansão de forma importante em todo o país. A política brasileira de PrEP já está implementada nas capitais e cidades de maior porte. O desafio, hoje, é levá-la também para o interior. 

 

Peru e México ainda não contam com políticas públicas de PrEP, mas apresentam fortes intenções e avançados desdobramentos para sua implementação brevemente. Acredito que a renovação do projeto será uma ótima oportunidade para a construção de dados com ainda maior qualidade nesses dois países visando oferecer subsídios sólidos para a adoção oficial de políticas públicas acerca da profilaxia. 

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Com a expansão do projeto, o ImPrEP apenas dará continuidade ao que vem sendo feito

ou atuará em novas iniciativas?

As duas coisas. Finalizaremos subestudos que se encontram em andamento e daremos início a novas implementações a partir do permanente cenário de inovação em torno da PrEP mundo afora. Em relação aos subestudos em curso, vale a pena destacar alguns, como o “Autoteste para o HIV como Forma de Aumentar a Demanda de Prevenção Combinada”, que vem sendo realizado no Rio de Janeiro e em Lima. O objetivo é avaliar se a distribuição secundária de autotestes para HIV, além de aumentar a testagem e vinculação ao cuidado, aumenta a busca por prevenção combinada, incluindo a PrEP (informações em www.imprep.org – Autoteste).

Outro subestudo a ser mencionado é o inquérito on-line com médicos prescritores de antirretrovirais (ARV) no Brasil, desenvolvido em parceria com o Departamento de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, do Ministério da Saúde. A iniciativa visa complementar o estudo qualitativo realizado pelo ImPrEP entre stakeholders ligados à implementação da PrEP no país e avaliar o conhecimento e aceitabilidade dos médicos que prescrevem ARV para o tratamento de pessoas vivendo com HIV em prescrevê-los (no caso, PrEP) para pessoas HIV negativas.

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Stock Snap/Pixabay

E quanto às novas iniciativas?

A PrEP é uma alternativa de prevenção que, cada vez mais, apresenta novos esquemas e  modalidades. Há muita inovação nesse campo. Uma das principais, já recomendada pela Organização Mundial da Saúde, é a chamada PrEP sob demanda ou PrEP eventual, recomendação baseada em estudos internacionais importantes. Tais estudos comprovaram a eficácia no esquema da PrEP eventual para gays/outros homens que fazem com homens (HSH) que apresentam uma vida sexual menos frequente e que conseguem organizá-la com mais facilidade, por meio da ingestão de dois comprimidos ao mesmo tempo de 2 a 24 horas antes da relação sexual, mais um comprimido 24 horas após a primeira dose e um outro 48 horas após a dose inicial. 

Em razão dos bons resultados já apresentados pelo projeto ImPrEP no Brasil, o Ministério da Saúde solicitou um estudo preparatório para a eventual implementação dessa modalidade de PrEP no país. Peru e México também farão a implementação da PrEP eventual, a partir de decisões internas próprias.Importante ressaltar que a implementação desse novo esquema incluirá desde uma divulgação bastante dirigida aos participantes do projeto, no sentido de decidirem se o esquema sob demanda é o mais indicado para suas vidas sexuais, até a forma como se dará a transição do medicamento diário para o uso eventual, quando for o caso.

 

Outro subestudo importante que será iniciado é o de soroincidência do HIV entre gays/HSHs e população trans, a ser realizado nos três países. A iniciativa visa conhecer a taxa de incidência, ou seja, a taxa de infecções recentes, acontecidas até 12 meses antes, para saber o status de crescimento da epidemia de HIV. Trata-se de um subestudo inédito em termos de grandes números na América Latina que, por meio de testagem para HIV com kits específicos de última geração, poderá diferenciar as infecções recentes das mais antigas. O subestudo espera atingir de 4 a 6 mil participantes. 

 

Também realizaremos uma segunda rodada da enquete on-line, realizada no primeiro semestre de 2018, com cerca de 20 mil gays/HSHs e bissexuais brasileiros, peruanos e mexicanos. A primeira versão desse levantamento, realizado por meio de aplicativos para encontros voltados à população HSH e também do Facebook, tem sido fundamental para a apresentação de diversificados dados acerca dos fatores associados à disposição de usar PrEP (que rendeu ao ImPrEP a publicação, em junho de 2019, de seu primeiro artigo científico, no renomado periódico JMIR Public Health and Surveillance (https://publichealth.jmir.org/2019/2/e13771/), nível de conhecimento, barreiras e dificuldades em relação à profilaxia, disponibilidade de fazer o autoteste para HIV, entre outros temas.

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Simone Rodrigues

Algum estudo específico sobre as novas modalidades de PrEP, como a injetável?

O ImPrEP realizará estudos de conhecimento, aceitabilidade, intenção de uso e preferências sobre produtos e modalidades de PrEP, incluindo a de longa duração (cabotegravir), mais conhecida como PrEP injetável. Também fará um estudo de mapeamento de resistências aos antirretrovirais entre os casos positivos encontrados no estudo de soroincidência, para analisar a prevalência de vírus resistentes à classe de medicamentos a que pertence o cabotegravir, dessa forma contribuindo para analisar os cenários de introdução desta nova tecnologia, quando disponível. 

Vale destacar que acompanhamos de perto o desenvolvimento e os atuais desdobramentos do estudo HPTN 083 sobre a PrEP injetável, testada com sucesso em 43 centros no mundo, com participação do Brasil por meio do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, tendo como co-pesquisadora principal, Beatriz Grinzstejn, também co-pesquisadora principal do ImPrEP.

 

Esse estudo, apresentado na mais recente edição da 23ª Conferência Internacional de Aids, em julho deste ano, comprovou que, quando administrado a cada dois meses, o cabotegravir tem eficácia 66% superior ao Truvada, comprimido usado diariamente de forma oral de PrEP na prevenção do HIV. O estudo focou em gays/HSHs e mulheres trans que fazem sexo com homens, consideradas populações mais vulneráveis à infecção do vírus da Aids.

 

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 Clker Free Vector/Pixabay

Importante ressaltar que o ImPrEP fará, ainda, novos estudos econômicos, além dos que já estão sendo conduzidos no Brasil, Peru e México, para demonstrar não apenas o custo/efetividade da PrEP ou a introdução de novos esquemas, como a PrEP injetável já citada, mas também a profilaxia num contexto mais global de prevenção, capaz de testar mais pessoas, identificar casos positivos, assim como análises mais aprofundadas sobre o uso da profilaxia e a incidência de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Uma das alternativas para isso, atualmente em avaliação, é aumentar a frequência da aplicação dos testes para ISTs em todas as visitas do protocolo. 

 

Como resumiria, em uma palavra, a importância da prorrogação do projeto ImPrEP?

Resumiria em duas palavras: amplitude e diversidade. Estamos certos de poder contribuir com estudos e análises de ponta para que a PrEP se torne uma política pública cada vez mais consistente em todo o mundo, alcançando um número cada vez maior e diversificado de pessoas, em especial aquelas mais vulneráveis ao HIV, como HSH, travestis e mulheres trans.

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Carlos Cáceres

Progressos e descobertas no Peru

 

“Ficamos muito satisfeitos em saber da prorrogação do ImPrEP por mais um ano. Essa extensão foi solicitada originalmente por dois motivos: primeiro, havíamos perdido algum tempo de acompanhamento no início do estudo e queríamos concluir o período de observação planejado, permitindo aos participantes tempo adicional para se beneficiar do projeto. Segundo, existiam novas questões relacionadas à PrEP que esperávamos abordar em novos subestudos. Mal podíamos imaginar que a crise da Covid-19 surgisse este ano, gerando tantas mudanças, inclusive nas instituições públicas e em seus regulamentos. No Peru, o bloqueio antecipado e drástico decretado pelo governo implicou a suspensão das atividades de estudo por mais de três meses. Nas últimas semanas, a maioria dos nossos serviços de saúde começou a reabrir para seu trabalho regular e o estudo está lentamente retomando as atividades. 

 

Continuaremos a fornecer a PrEP para os/as participantes inscritos até o final de abril de 2021. Embora não planejemos incluir novas pessoas para o regime diário da profilaxia, poderemos oferecer o esquema sob demanda para as pessoas que se qualificarem para isso. Também concluiremos um subestudo de autoteste para HIV, outro qualitativo sobre a descontinuidade no uso da PrEP e uma análise de custo-efetividade, bem como realizaremos um subestudo de incidência de HIV entre a população-alvo, uma pesquisa com médicos e um novo estudo econômico sobre cadeias de valor. Também manteremos informado o Programa de HIV/IST/Hepatites do Ministério da Saúde, nosso parceiro neste esforço colaborativo, sobre progressos e descobertas, a fim de facilitar uma transição bem-sucedida do ImPrEP Peru para um potencial sistema público, de provisão de serviços de PrEP”.

 

Carlos Cácares, pesquisador principal do ImPrEP Peru

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Hamid Vega

Sergio Bautista-Arredondo

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Compartilhamento de resultados no México

 

“A extensão do projeto ImPrEP é uma notícia empolgante, não apenas porque nos dará a oportunidade de acompanhar os/as participantes por mais tempo, mas também nos permitirá continuar a incluir candidatos elegíveis. Dessa forma, os esforços contínuos para implementar um programa que oferece PrEP para aqueles que estão em maior risco serão otimizados. Além disso, a equipe do México está ansiosa por continuar lançando estudos que nos ajudarão a entender melhor as barreiras que as pessoas enfrentam ao procurar ou usar a PrEP. 

Enquanto atualmente coletamos dados qualitativos entre usuários, ex-usuários e usuários em potencial, estamos preparando a coleta de dados para um experimento de escolha discreta, que se trata de um estudo econômico sobre preferências de produtos de PrEP, e um exercício de cálculo de custos. Com esses dados, juntamente com nossos resultados sobre a disposição para pagar por medicamentos, poderemos lançar luz sobre os aspectos econômicos da execução dos serviços de PrEP. Por fim, como nosso programa não conseguiu atrair muitas mulheres trans, pretendemos organizar uma pesquisa direcionada a essa população-chave para, com base nos resultados, desenvolver recomendações sobre como melhorar a aceitação da profilaxia entre elas. Além disso, o apoio e a participação das organizações comunitárias como locais de implementação permanecerão como um componente crítico para alcançar a população de alto risco e mais necessitada. 

 

Outro benefício importante da prorrogação do estudo é que nos permitirá compartilhar mais resultados de longo prazo em termos de adesão e continuidade do uso da profilaxia entre os participantes com o Centro Nacional de Prevenção e Controle do HIV e Aids do México (Censida). Também poderemos concluir a coleta de dados sobre a disposição em prescrever, informações e a capacidade de identificar candidatos à PrEP entre os profissionais de saúde. O Censida está ansioso para incluir a PrEP no programa nacional de prevenção do HIV e os resultados do ImPrEP são de grande interesse para eles. Estamos cientes de que a atual crise da Covid-19 continuará trazendo desafios extras, mas a extensão do projeto foi de grande valor, pois nos deu a oportunidade de desenvolver ainda mais pesquisas necessárias sobre a PrEP na América Latina”.

 

Hamid Vega e Sergio Bautista-Arredondo, pesquisador principal e co-pesquisador principal do ImPrEP México

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