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Lições aprendidas com o projeto ImPrEP

A pesquisadora principal do ImPrEP, Valdiléa Veloso, iniciou sua apresentação informando que o estudo no Brasil, atualmente, conta com 3.466 participantes entre gays/homens que fazem sexo com homens (HSH), travestis e mulheres trans, atendidos em 14 centros de 11 cidades de todas as regiões do país: São Paulo (3), Rio de Janeiro (2), Brasília, Campinas, Florianópolis, Manaus, Niterói, Porto Alegre, Recife, Salvador e Santos.

Em seguida, debruçou-se a traçar fatores associados à retenção dos participantes no estudo: idade média de 18 a 24 anos (67,7%), com ensino secundário incompleto (68,1%), destacando o índice de 56,1% de mulheres trans. Quanto aos fatores que contribuem para a retenção na realização da visita de acompanhamento a cada 30 dias, chamam a atenção os seguintes dados: idade média de 18 a 24 anos (92%) e de 25 e 34 anos (95,1%), com ensino secundário incompleto (90,8%) e com ensino secundário completo (96,1%), negros (94,9%) e raça mista (93%), HSH (95,6%) e mulheres trans (83,6%).

 

Entre as lições aprendidas com a implementação do ImPrEP, a constatação de que o esquema oral diário é viável, bem como a certeza de que as populações mais difíceis de serem alcançadas são as que correm maior risco de descontinuidade do uso da PrEP, aumentando as desigualdades dos benefícios oriundos da profilaxia.

Outro aprendizado importante a ser destacado é a educação comunitária, realizada por agentes comunitários - no projeto chamados de educadores de pares - considerada essencial para aumentar a conscientização acerca da PrEP, alcançar as populações-chave e mais vulneráveis, e obter o êxito pretendido por um projeto de demonstração como o ImPrEP.

 

Entre os diversos subestudos em andamento do ImPrEP, a pesquisadora fez questão de destacar o do “Autoteste para o HIV como Forma de Aumentar a Demanda de Prevenção Combinada”, que vem sendo realizado no Rio de Janeiro e em Lima. O objetivo é avaliar se a distribuição secundária de cinco autotestes para HIV e cupons para visita ao serviço de saúde, além de aumentar a testagem e vinculação ao cuidado, aumenta a busca por serviços de prevenção combinada, incluindo a profilaxia. Análises preliminares apontam que a estratégia vem sendo bem aceita: cerca de 89% dos usuários dos usuários de PrEP convidados aceitaram fazer distribuição dos materiais entre seus pares.

 

A seguir apresentou a estratégia de atendimento em PrEP durante a epidemia de Covid-19, elaborada para servir de referência aos 14 centros de estudos do ImPrEP no Brasil, sendo sido adotada ou adaptada a partir das orientações das autoridades públicas locais. 

 

O Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, na Fiocruz/RJ, onde funciona a coordenação-geral do projeto, foi um dos centros que aderiu à estratégia, cuja experiência foi descrita no artigo “A telemedicina como ferramenta na oferta da PrEP durante a Covid-19 em um grande serviço de prevenção ao HIV no Rio de Janeiro”, de Brenda Hoagland e outros pesquisadores, publicado em maio passado no Brazilian Journal of Infectious Diseases, da Sociedade Brasileira de Infectologia.

 

Entre os diversos e detalhados procedimento adotados, Valdiléa informou que o primeiro passo é fazer contato telefônico com cada participante, antes da visita presencial agendada, para saber se apresentam sintomas da Covid-19. Os que respondem afirmativamente têm suas visitas canceladas, recebem informações sobre o vírus e a epidemia, sendo orientados a usar preservativo em qualquer relação sexual durante o período que estivessem sem PrEP. 

 

Aqueles que respondem negativamente têm suas visitas presenciais confirmadas e, ao chegarem à unidade de saúde, passam por uma verificação em relação à existência de sintomas. Em seguida, realizam um teste rápido para HIV e, enquanto aguardam o resultado em espaço aberto, são contatados por celular para saber se apresentam sintomas de alguma infecção, em especial sexualmente transmissível, e para tirar dúvidas sobre a PrEP. Uma vez que o resultado do teste rápido para HIV está disponível, e sendo negativo, o participante recebe uma receita digital, retirando, na farmácia, o suprimento de 120 dias de PrEP e mais dois kits de autoteste para HIV.

 

Após essa consulta inicial, até que o isolamento social acabe, todas as visitas subsequentes serão realizadas virtualmente por telefone, incluindo orientações para a realização do autoteste de HIV, cujos resultados são enviados por meio de imagem digital. Os participantes comparecem à unidade de saúde apenas para retirar a nova dose da PrEP, reduzindo significativamente o tempo gasto no local e o contato social.

 

Desde a implementação desses procedimentos de telemedicina, em 5 de março até 5 de junho passado, 564 participantes concluíram as

consultas pelo telefone e a teleconsulta inicial. A média de tempo gasto no centro foi reduzida em duas horas, passando de três para uma.

A pesquisadora principal do ImPrEP ressaltou que o uso da telemedicina e o do autoteste para HIV se mostraram viáveis para superar as barreiras impostas pela Covid-19 durante o isolamento e o lockdown, destacando que o longo tempo gasto nas visitas às clínicas de PrEP é uma das razões mais frequentes de insatisfação entre os usuários da profilaxia.

 

Nesse sentido, ela acredita que a telemedicina e o autoteste para HIV podem ser incorporados aos serviços públicos de PrEP após a pandemia, com a possibilidade de aumentar a capacidade de atendimento a HSH e mulheres trans no Brasil.

 

Valdiléa finalizou sua explanação frisando que, de janeiro de 2018 a abril de 2020, 20.404 pessoas iniciaram a PrEP em serviços públicos no Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde, sendo 80% HSH, 40% com idade média entre 30 e 39 anos, e 71% com 12 anos ou mais tempo de educação formal. Concluiu avaliando que a parceria entre o ImPrEP e o ministério mostrou-se bem-sucedida e que as inovações propostas pelo projeto estão contribuindo de forma significativa para o aumento do uso da PrEP e para a devida implementação da profilaxia no Brasil.

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